O Piloto

Autor: Ivo Simões

 

O rio está cheio.
O barco ancorado ao cais.
Amarrado por cordas e arretinidas.
Esperando a hora da partida.
Seu porão é grande, mas logo estará cheio de castanhas.
Que de hectolitro em hectolitro são medidos sobre o olhar atento do marca marcador.
Tudo pronto, porcos d’água a bordo, uns soltam o barco outros recolhem as pranchas.
O barco carregado parece deslizar suavemente.
Sob as ordens de seu principal condutor: o piloto.
A viagem é longa e o Rio Tocantins majestoso e traiçoeiro esconde:
Pedras, banco de areia e cachoeiras.
O piloto não pode errar.
Capitariquara a vista, começa a hora de aflição.
O piloto ordena: marinheiros e passageiros procurem seus lugares.
Porco d’água baixe e pregue as sanefas, mestre de proa amarre os tambores no molinete.
O piloto faz soar uma campainha, que é seu principal instrumento de comunicação entre ele e o maquinista.
O maquinista que por sua vez responde com seguidos toques de retinidos, avisando que está atento aos seus comandos.
Começa a operação descida.
Com seus braços fortes o mestre piloto segura firme a cana de leme, seu rosto se franze, seus músculos parecem querer pular.
Com um toque pede que diminua a aceleração do motor, mas pouco adianta.
O rio corre muito, e ele tem que ser preciso.
Em sua frente estouram rebojos, rodeados de pedras mortas.
O barco pesado parece gemer.
Em seguida vem a volta das três pedras.
E logo também vem o corte do engenho.
De tão pesado parecia que o barco ia afundar, mas logo se emerge.
É a famosa gangorra das cachoeiras.
O mestre piloto atento parecia não piscar.
Era uma luta bonita, onde o homem só tinha que acreditar nele mesmo fazendo o uso de todos os seus conhecimentos: técnica e força.
Naquela época não existia a avançada tecnologia de comando e o mestre piloto não podia errar, pois qualquer erro era fatal e todos os danos atribuídos a ele o piloto.
Muitos já se foram, os que ainda sobrevivem foram esquecidos por nossa história, mas eu ainda tenho em minhas lembranças.
Posso cantar que meus heróis não morreram de overdose.


Viva mestre Dadá!
Viva mestre Ramires!
Viva mestre Felipe Bala Doida!
Viva mestre Boca Preta!
E viva mestre Munguba!

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