Nota da advogada Paula Frassinetti

VERGONHA

Ruy Barbosa, em 1914 escreveu:

 

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

 

Aproprio-me das palavras de nosso patrono, cuja sabedoria encontra-se indiscutivelmente atualizada aos nossos tempos, para lamentar que a minha instituição construída da luta contra os poderosos, da defesa dos injustiçados, calcada na ausência do medo de desagradar, se veja hoje desviada de seu papel, envolvida numa grande trapalhada que vem atingindo a todos nós advogados.

 

E se assim o faço, rompendo com um silencio que impunha a mim mesmo, de nunca subir ao palanque, mantendo-me na posição de plateia, é porque não sei onde andam os que deveriam me defender como advogada.

 

Estou falando em nome próprio, portanto não percam tempo procurando apoio a grupelhos ou interesses outros em meu desabafo.

Minha manifestação é a de uma advogada militante que se sente atingida pela vergonha e que assiste o achincalhe de nossa instituição e de nossa profissão, sem perceber quem ao final irá salvá-la.

 

Como advogada que sou, aprendi nos bancos da Universidade e com a militância diária que o exercício da dignidade envolve o meu exercício profissional, num elo de resistência inatingível.

 

Não admito que ninguém ouse macular uma instituição que não é minha, mas de todos os advogados, inclusive e principalmente dos que escrupulosamente exercem o seu mister.

 

Não admito ter que ouvir piadas e indiretas nos corredores dos fóruns e mesmo dentro de um taxi acerca dos inexplicáveis acontecimentos que atingem a Instituição que deveria me representar.

 

Hoje é dia do advogado e eu me orgulho disso.

 

Mas também é dia de muita vergonha, que é como me sinto diante dos acontecimentos acerca dos quais não vislumbro soluções reparadoras.

 

Finalizo com Ruy, na sua conhecida "Oração aos Moços", ainda tão pertinente.

 

"Mãos à obra da reivindicação de nossa perdida autonomia; mãos à obra da nossa reconstituição interior; mãos à obra de reconciliarmos a vida nacional com as Instituições nacionais; mãos à obra de substituir pela verdade o simulacro politico da nossa existência entre as nações. Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa. Mas não buscando salvadores. Ainda vos podereis salvar a vos mesmos. Não é sonho, meus amigos: bem sinto eu, nas pulsações do sangue, essa ressurreição ansiada. Oxalá não se me fechem os olhos, antes de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus."

 

E reitero com Ruy, oxalá não se me fechem os olhos, ante de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus.

 

Paula Frassinetti - OAB-Pa 2731

Em 11.08.2011

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