Gravações da PF indicam pagamento de propina no DF

agnelo

Matéria de RUBENS VALENTE, LUCAS FERRAZ, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO E ANDREZA MATAIS, publicada na edição de 12.04.2012 no jornal “Folha de S. Paulo”

Diálogos telefônicos interceptados pela Polícia Federal sugerem que a construtora Delta, uma das maiores do país, pagou propinas para receber pagamentos por serviços prestados ao governo do Distrito Federal.

As conversas foram gravadas com autorização judicial durante as investigações sobre os negócios do empresário Carlos Cachoeira, preso em fevereiro sob a acusação de explorar jogos ilegais.

O Congresso decidiu criar nesta semana uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as ligações de Cachoeira com políticos em Goiás, no Distrito Federal e no Rio de Janeiro.

A construtora Delta é a empresa que domina o serviço de coleta de lixo no Distrito Federal. O contrato mais recente foi assinado em 2010, antes da posse do governador Agnelo Queiroz (PT).

Os diálogos obtidos pela Folha mostram um dos operadores de Cachoeira discutindo com assessores de Agnelo e um executivo da construtora dificuldades que ela tinha para receber pagamentos do governo.

Numa conversa interceptada em abril de 2011, um assessor de Agnelo, Marcelo Lopes, afirmou que o governador instruíra sua equipe a "cuidar da Delta" para "não dar problema no lixo".

Do outro lado da linha estava o sargento da Aeronáutica Idalberto Araujo, o Dadá, apontado pela polícia como principal operador de Cachoeira. Ele também foi preso junto com o empresário.

Em outro diálogo interceptado pela PF na mesma época, Dadá disse a Marcelo que a Delta "não vai dar um real para ninguém", por causa da demora para receber do governo os pagamentos pelos serviços de coleta de lixo.

O então diretor da Delta na região Centro-Oeste, Claudio Abreu, avisou o operador de Cachoeira que faria isso em março de 2011. "Não dá mais, rapaz, estamos sem receber, não cai dinheiro", disse.

O executivo ameaçou procurar o próprio Agnelo para tratar do assunto. "Pode falar que o governador mandou me chamar. Eu vou ter que falar diretamente com o governador, cara", disse Abreu. Dadá respondeu: "Tranquilo, vou falar direitinho".

Dadá voltou a discutir a situação com Marcelo logo depois. O assessor do governador recomendou que agisse com cautela para evitar que a situação da Delta piorasse. "Os caras podem travar a terceira fatura", explicou.

As conversas gravadas pela polícia mostram também que Abreu e Dadá trabalharam para nomear pessoas de sua confiança nas áreas do governo do DF responsáveis pelo gerenciamento dos contratos do lixo.

A construtora Delta afirma desconhecer o pagamento de propinas no Distrito Federal. A empresa demitiu Abreu em março deste ano e diz que não sabia do seu envolvimento com o grupo de Cachoeira.

A PF sugere que um dos diálogos interceptados indica que em algum momento o próprio Agnelo pediu para conversar com Cachoeira. Dadá diz a Cachoeira que o "zero-um", o "magrão", quer falar com ele.

No relatório em que a conversa foi transcrita, a PF afirma que o diálogo "dá a entender que se trata de Agnelo Queiroz".

> Governador diz que acusações são 'fantasiosas'

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), chamou de "fantasiosas" as tentativas de envolver ele e seu governo no escândalo de Carlinhos Cachoeira.

"[É] mais uma tentativa desesperada de arrastar o meu partido para esse escândalo."

Sobre o áudio da Polícia Federal em que os investigadores sugerem que o "01" citado no grampo seria o governador, Agnelo disse tratar-se de uma "fantasia".

"Dizer que esse tal 01 sou eu é tão insustentável quanto dizer que o 01 é o papa."

Agnelo defendeu a instalação da CPI no Congresso.

O secretário de governo do DF, Paulo Tadeu, disse que não tratou de nomeações. Ele reconheceu ter encontrado o representante da Delta uma vez para tratar do contrato da empresa com o governo.

Até a conclusão desta edição, o governo não comentou a participação da Delta na campanha de Agnelo.

A Delta disse "desconhecer" o suposto pagamento de propina à cúpula do governo.

Sobre a suspeita de caixa dois, a Delta disse que as doações foram declaradas.

Em relação à coleta do lixo em Brasília, a empresa afirmou que assumiu o serviço por decisão judicial.

A Delta reconheceu que apoiou Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, na condição de diretor da Associação dos Catadores de Limpeza Urbana do DF, mas que ele nunca trabalhou na empresa.

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